JULIA ALMEIDA ALQUÉRES
( São Paulo – Brasil )
Cursando Cinema e Jornalismo.
É colaboradora do blog "Sindicato dos Escritores Baratos."
POETAS DE HOJE EM DIA(NTE). Org. Priscila Lopes e Aline Gallina. Florianópolis: Letras Conntemporâneas, 2009. 157 p. Ex. bib. Antonio Miranda
Estesia
Aponta-dor
a agulha afiada espirra aquarelas
em meus glóbulos brancos
Dentro de mim
xilogravuras japonesas
pois sou de carne e madeira.
Soam sinos
Mais sou
Menos me torno
Mas sou.
Soam sinos
Pétalas e asas...
Soam sinos
Estilhaçam-se vidros
Ensurdece a asa
Sangra a pétala.
A asa da borboleta,
O cone invertido
A pétala de rosa,
O badalo.
Soam mártires.
O órgão fundamental do vôo
Aclamado pelo sopro
A peça da corola da flor
Robusta mas febril
Soam sinos
O badalo do cone...
Verte-se o líquido salgado.
A melodia estridente
A pétala efêmera
O sopro nostálgico
Torno-me
Mas não sou
Do badalo
Escorre meu líquido
É água sagrada estilhaçada
Porém profana
Mais sou
Menos me torno
Mas sou
O último badalo encharcado
Aclamado pelo martírio.
Sopro desatinado
Ao vento, pelo movimento
Desequilibra-se a livre pena
Despertando-se pela precipitação.
Encosta-me, não me toca
Apenas olhos... Ao vento
Pelo movimento
Oscila o ápice da videira
Desabrochando vastidão
Precipita-se a profundidade
Encosta-me, não toca.
Olhos, ao vento a toar
A flauta pela marcha real
O sopro desatinado da existência
A peça, a árvore:
Aquece, embriaga
Sondadas, dês-cobertas...
O sussurro é independente, natural
Aproxima-se... Não sei tocar.
Ao sopro escorrega a pena pela videira
Em desmoronamento, a flautear.
Meus olhos, resto é vaso de forma cilíndrica
Ápice literal, sem sentidos.
tumtictumtactictumtac
bate tanto
o meu coração
que trinca toda
a minha costela
trinca tanto
que desanda todo
o meu tecido
transporto um pincel
goela abaixo
pincelo sem cor,
abrando o meu coração.
tum...tic...tum...tac
Assalto
(Ao poema "O incrível salto", de Priscila Lopes)
Salte pro mundo
Salte do vigésimo andar
Neste instante:
Salte!
Todos os órgãos
saltam
para fora de mim
neste instante
salto
Sobre a alma viva
saltada em mim
(alma é vento)
Corpo e cimento
(corpo é cimento)
Saltei!
— Fui eu quem me roubei.
*
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Página publicada em agosto de 2022
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